Alimentação saudável x açúcar, como conseguir o equilíbrio?
27 de agosto de 2019
Que tal uma mamadeira de leite condensado para seu bebê? Você não leu errado, é isso mesmo. Uma mamadeira de leite condensado para um recém-nascido é algo muito assustador não é mesmo? Mas acredite, é o que médicos do início do século recomendavam de acordo com as propagandas da época. A revista Vida Doméstica, publicada em 28 de julho de 1928 apresenta essa informação, apontando que “o bom leite condensado, que é puro, rico em creme, que não se pode falsificar e substitui com vantagem o leite fresco. Segundo a opinião de sumidades médicas, é o único que pode fazer as vezes do leite materno na época difícil de serem desmamadas as crianças.”
Naquela época, o leite condensado era comercializado como o substituto vitaminado, mais durável e supostamente mais higiênico – por ser condicionado em latas fechadas – que o leite fresco, que saía das vacas e cabras das pequenas propriedades direto para as garrafas entregues em casa (onde não havia geladeira para que durasse mais do que algumas horas). Ao lado dos industrializados, também o açúcar passava a ser vendido nos anúncios publicitários como um alimento indispensável à saúde, sobretudo das crianças, que, com uma dieta rica dele, teriam mais energia e ficariam mais robustas e coradas. Esse seria, aliás, o tema das propagandas do adocicado ingrediente até praticamente o fim do século 20. Nos livrinhos culinários lançados a partir dos anos 1960, esse discurso, era inclusive apoiado por médicos.
O que queremos dizer com isso é que as coisas mudam, o tempo inteiro. Novos estudos são realizados e divulgados, novas pesquisa trazem informações atualizadas para serem aplicados ao nosso dia a dia, de acordo com a nossa mudança de comportamento e consumo também. Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto o Ministério da Saúde recomendam não utilizar açúcar no primeiro ano de vida. E em 2016, a Academia Americana de Pediatria alterou a recomendação para que se introduza o açúcar somente após os 2 anos de idade. Vivemos novos tempos na alimentação infantil. Esse estilo de vida moderno nos levou à necessidade de refeições práticas e rápidas que, associadas às facilidades tecnológicas, provocaram alterações nos hábitos de vida e no comportamento alimentar de todos. Essa alteração nos costumes alimentares provocou mudanças no estado nutricional das crianças, melhorando os índices de desnutrição, mas deixou-as mais suscetíveis à obesidade, diabetes e hipertensão arterial, entre outras doenças da modernidade.
Por isso, o Ministério da Saúde sugere os seguintes passos para uma alimentação saudável:
PASSO 1 – Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.
PASSO 2 – A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.
PASSO 3 – A partir dos seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, frutas e legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia se estiver desmamada.
PASSO 4 – A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.
PASSO 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher; começar com consistência pastosa (papas / purês), e gradativamente aumentar a sua consistência até chegar à alimentação da família.
PASSO 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida.
PASSO 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.
PASSO 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.
PASSO 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.
PASSO 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.
O açúcar aumenta os níveis de hormônios como a dopamina e a serotonina, que causam uma momentânea sensação de bem-estar, mas com a liberação da insulina, esse estado de excitação passa rapidamente, e a pessoa sente vontade de comer mais açúcar, portanto, o açúcar pode viciar. Agora imagina nas crianças o efeito disso? Pois é, desde novinhas vão ser viciadas em algo que não precisam!
4 DICAS PARA EVITAR O AÇÚCAR
1 – Não prove a comida do seu bebê: ao experimentar a papinha, os pais provavelmente acharão que falta tempero ou que tudo está meio “sem graça”. Mas o bebê não, ele é uma página em branco.
2 – Invista em alimentos naturais: a fase da alimentação complementar é justamente a hora dos pequenos conhecer as frutas, legumes e verduras, com seu sabor natural. Os sentidos da criança estão em desenvolvimento e incrementar comidinhas com sal ou açúcar nesta fase pode comprometer essa evolução na medida em que se oferece excessos de sabor – seja doce ou salgado. Quanto mais alimentos in natura e menos industrializados (e cheios de açúcar e aditivos) a criança ingerir, mais benefícios ela terá.
3 – Açúcar não é amor: ao fazer um exame médico, o brinde é um pirulito. O vovô sempre oferece uma balinha. Os biscoitos recheados e sucos de caixinha possui o personagem preferido na embalagem, as lembrancinhas de festas são doces. E no final do dia, quando a culpa te preenche por alguma coisa, você leva para casa um chocolatinho e isso como se fosse a coisa mais normal do mundo, tão normal quanto uma mamadeira de leite condensado. Existem outras maneiras de demonstrar amor para as crianças, ainda que o mundo demonstre o contrário.
4 – Criança não faz compras: para finalizar, crianças não vão ao mercado. Crianças não possuem autonomia para comprar nada. Crianças comem e experimentam o que adultos oferecem. Uma alimentação ruim não é responsabilidade das crianças, e sim dos pais.
Um pouquinho de açúcar hoje não mata, mas sem uma mudança de hábitos, em menos de uma década a obesidade pode atingir 11,3 milhões de crianças no Brasil, de acordo com um alerta divulgado pela Federação Mundial de Obesidade.
Fontes:
https://lembraria.com/2017/02/03/as-fantasticas-mamadeiras-de-leite-condensado-ou-uma-historia-do-brigadeiro/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101990000300011
http://www.redeblh.fiocruz.br/media/guiaaliment.pdf