Momento Dourado,Saúde e Bem Estar
A importância do diagnóstico precoce para a cura do câncer infantil
14 de novembro de 2024
Por Dra. Marcela de Moraes Barros e Souza*
Neste Novembro Dourado, tenho um recado muito importante para as mamães e os papais: o diagnóstico precoce do câncer infantil é fundamental. Quanto mais cedo a gente descobre a doença, menos quimioterapia a criança faz. E então, menos sofrimento ela e sua família passam, menos tempo dura o tratamento e maior a possibilidade de cura.
Por isso, é preciso estar sempre atento aos sinais que podem surgir no dia a dia dos nossos filhos. Os sintomas do câncer infantil dependem de qual o tipo de doença que a criança tem. Na leucemia, o caso mais comum entre os pequenos, são anemia, palidez, fraqueza, cansaço, aumento de ínguas, gânglios, dores nas pernas e muita fadiga. A criança fica muito cansada.
Nos casos de linfoma, ocorre o aumento de ínguas no pescoço, na virilha, nas axilas, aumento do volume do abdômen, da barriga, além de dores abdominais constantes. Os tumores ósseos provocam uma dor nos ossos, bem localizada e, por fim, nos tumores do sistema nervoso central, que também são muito comuns, os sinais são dor de cabeça, principalmente matinal, enjoo e alguma alteração neurológica, como falta de força em algum membros.
É importante lembrar que muitos desses sintomas são manifestações corriqueiras de outras doenças comuns na infância. E você deve estar se perguntando: como diferenciar isso então?
Como identificar os sintomas de câncer infantil
A diferença é que os sintomas do câncer perduram por mais de cinco ou sete dias. Enquanto um resfriado que tambem pode dar dor de cabeça, vai durar de dois a três dias, uma dor na perna, de crescimento, dura uma noite, um tumor ósseo, na perninha, vai durar cinco, sete, dez dias. E isso não é normal. Ou seja, quando um sintoma dura mais de sete, 10 dias, realmente pode ser um câncer.
Levar seu filho ao pediatra para consultas de rotina, mensalmente quando bebês, trimestralmente, depois semestralmente, crianças maiores de quatro anos, a cada ano, é muito importante para que, se o pediatra percebe alguma coisa que não está legal com a criança, que tem alguma suspeita, já vai fazer os exames, vai investigar e encaminhar para o tratamento adequado.
Mas, independentemente dessa rotina, tem uma coisa que eu falo sempre: cada mãe conhece o seu filho, e se você acha que ele não está bem, que ele tem um sintoma novo e persistente, que tem o comportamento alterado, repita a consulta, se o pediatra não resolveu o problema, vá atrás de outro médico, de uma segunda opinião, até que o problema seja resolvido de fato.
O tratamento e a cura do câncer
A cura do câncer infantil no Brasil ainda é em torno de 70%, mas a gente pode aumentar muito esse percentual. Com o diagnóstico precoce conseguimos atingir até 90%, um número igual a dos países mais desenvolvidos.
O tratamento é muito individualizado, de acordo com cada doença, cada tipo de tumor e o estado de cada criança. Mas na criança, assim como no adulto, a gente faz principalmente quimioterapia, cirurgias e radioterapia. A químio tradicional tem muitos efeitos colaterais, o principal deles é a destruição de células jovens, do cabelo, do sangue, da mucosa da boca, do intestino, o que aumenta muito os riscos de infecções.
Hoje, temos também novos medicamentos, novas terapias oncológicas, como as imunoterapias, as terapias alvo que têm menos efeitos negativos e maior taxa de cura. Mas infelizmente eles ainda são muito caros e a gente usa em casos muito específicos.
Nós consideramos a cura da criança quando ela está há cinco anos fora de tratamento, sem ter nenhum sinal da doença. E, para nós, profissionais de saúde, você pode acreditar, isso é uma realização, ver de novo o sorriso estampado nesses rostinhos e uma vida se descortinando pela frente.
Por fim, um último lembrete: o câncer infantojuvenil, ao contrário do que acontece com os adultos, é muito difícil prevenir. Mas a adoção de hábitos saudáveis como uma alimentação equilibrada, evitando o consumo de conservantes e corantes, a prática regular de atividades físicas, dormir cedo, pode contribuir para a prevenção da doença na vida adulta.
*Dra. Marcela de Moraes Barros e Souza é médica oncologista pediátrica.